quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Ilhavo Sea Festival #1 - Aí estão eles!

Durante os próximos dias, o blog entrará no modo "Ilhavo Sea Festival", para puder trazer-lhe todas as novidades deste grande evento!

Os vários veleiros irão atracar no Terminal Norte do Porto de Aveiro, na Gafanha da Nazaré, sendo que estarão abertos para visitas conforme já aqui foi referido num outro post.

Hoje, por volta das 9h46, começaram a entrar os primeiros veleiros participantes.

O "Creoula" seguido do "Santa Maria Manuela" abriram as hostes.

Julgo que o "Creoula" é uma estreia aqui no blog, portanto, Bem-vindos!

A Marinha Portuguesa fez-se representar por um belo exemplar, que dá orgulho ver a navegar.

A seguir, o seu irmão "Santa Maria Manuela":

E agora, uma foto com o que resta da nossa "White Fleet", a Frota Branca que tantas alegrias nos deu.


Pouco passava das 11H30, e já se notava no horizonte uma mastreação diferente. Era o Navio Escola "Guayas" da Armada do Equador.

O pormenor da tripulação nos Mastros do navio:


Fiquem atentos! Mais navios virão, e certamente que terão oportunidade de os ver aqui.

Até à próxima!

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© 2012 por Tiago Neves. Todos os direitos reservados.

sábado, 28 de julho de 2012

Comemoração do 75.º Aniversário do Museu Marítimo de Ílhavo

O Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) nasceu a 8 de Agosto de 1937. De museu municipal dedicado aos usos e costumes locais evoluiu para um museu municipal dedicado à cultura do mar – um museu marítimo por excelência.

Celebrar os 75 anos de vida do MMI significa homenagear todos quantos ajudaram a construir a sua história – dirigentes, funcionários, doadores de colecção e de testemunhos, o público em
geral e todos os amigos do museu.
Comemorar os 75 anos de história deste museu singular significa, também, partilhar com a sua comunidade de públicos o ciclo novo que o Museu inicia este ano, uma etapa de vida baseada numa renovada ambição de projecto que, tal como noutros momentos decisivos da história do MMI, começa pela ampliação física do edifício e pela recriação dos patrimónios.

Durante cinco dias, de 8 a 12 de Agosto, ao longo de 75 horas de programação, o MMI estará em festa, oferecendo
ao público diversas actividades culturais que vão da gastronomia ao teatro, música, cinema e artesanato. A
celebração da cultura do mar será o motivo central da festa. Aqui fica o nosso convite.

8 de agosto quarta-feira
~ 10h00-24h00 Dia Aberto
~ 10h00 Hastear de Bandeiras
Cerimónia de abertura do 75.º aniversário do Museu Marítimo de Ílhavo
~ 15h00 Visitas encenadas - Histórias do fim do Mundo, dinamizadas por Projeto D/Leonor Barata
~ 16h00 Ciclo de cinema “100 anos do Titanic” - “Atlantis” (1913)
~ 18h00 Visita especial - Museu + Aquário (obras) + CIEMar-Ílhavo
~ 19h30 Sessão Comemorativa
Reabertura da Sala da Ria
Inauguração da exposição “Viagens na Coleções do MMI” (2.º módulo)
Apresentação online das coleções de pintura, desenho e algas marinhas
~ 22h00 Música - Orquestra Filarmonia das Beiras

9 de agosto quinta-feira
~ 10h00-24h00 Horário do Museu
~ 15h00 Ciclo de cinema “100 anos do Titanic” - “Titanic” (1943)
~ 18h00 Visita especial - Museu + Aquário (obras) + CIEMar-Ílhavo
~ 19h00 Ciclo de cinema “100 anos do Titanic” - “Titanic” (1953)
~ 22h00 Ciclo de cinema “100 anos do Titanic” - “Titanic” (1997)

10 de agosto sexta-feira
~ 10h00-22h00 Horário do Museu
~ 15h00 Ciclo de cinema “100 anos do Titanic” - “A Night to Remember” (1958)
~ 16h00 Visitas encenadas - Histórias do fim do Mundo, dinamizadas por Projeto D/Leonor Barata
~ 18h00 Visita especial - Museu + Aquário (obras) + CIEMar-Ílhavo
~ 19h00 Ciclo de cinema “100 anos do Titanic” - “S.O.S. Titanic” (1979)
~ 21h30 Uma Noite a Bordo

11 de agosto sábado
~ 10h00-24h00 Horário do Museu
~ 10h00-19h00 Nautimodelismo
~ 10h00 Pequeno Almoço dos “Louvados”
~ 11h00 Cinema Infantil
~ 15h00 Ciclo de cinema “100 anos do Titanic” - “Raise the Titanic” (1980)
~ 16h00 Visitas encenadas - Histórias do fim do Mundo, dinamizadas por Projeto D/Leonor Barata
~ 18h00 Visita especial - Museu + Aquário (obras) + CIEMar-Ílhavo
~ 22h00 Teatro - Pequena História Trágico Marítima

12 de agosto domingo
~ 14h00-23h00 Horário do Museu
~ 14h00-19h00 Nautimodelismo
~ 15h00 Ciclo de cinema “100 anos do Titanic” - “Titanica” (1995) e “Ghosts of the Abyss (2003)
~ 18h00 Visita especial - Museu + Aquário (obras) + CIEMar-Ílhavo
~ 21h30 Cinema com música ao vivo - “Nanook, o Esquimó”, com Óscar Graça
Todos os Dias
~ Feira do Livro do Mar
~ Artesananto Marítimo
~ Gastronomia

Entrada gratuita em todas as ações programadas

http://www.museumaritimo.cm-ilhavo.pt/

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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ílhavo Sea Festival 2012

No ano em que se comemoram os 75 anos do Museu Marítimo de Ílhavo, que se associa ao 75.º aniversário do Creoula, do Santa Maria Manuela e da Sagres, a Câmara Municipal de Ílhavo vai realizar, entre os dias 3 e 6 de agosto, o Ílhavo Sea Festival 2012, que integra um conjunto vasto de ações de índole cultural e desportiva e que conta com a presença de alguns dos mais belos Veleiros do Mundo. Esta iniciativa, da responsabilidade da Câmara Municipal de Ílhavo, que conta com o apoio e a colaboração de diversas entidades, de entre as quais se destaca a APA - Administração do Porto de Aveiro, como Parceira Oficial, vai acolher no Terminal Norte na Gafanha da Nazaré veleiros tão deslumbrantes como os nossos queridos Creoula, Santa Maria Manuela e Argus, bem como o Mir, o Alexander von Humboldt II, Dar Mlodziezy, o Johanna Lucretia, o Maybe entre outros.

Ao participarem na “The Tall Ships Races 2012” da STI (Sail Traning International), escolheram este “Porto Amigo”, o Município de Ílhavo, como ponto de paragem entre Cádiz e A Coruña (Espanha), estando durante estes dias de portas abertas para receber todos os que os queiram visitar. Para além da imponente presença dos Veleiros, destaque ainda para a alegria contagiante das suas tripulações, que se associarão a este evento com mais cor e dinâmica, tornando o momento ainda mais único e memorável. Durante os quatro dias de permanência da frota, vão ter lugar um vasto conjunto de iniciativas que irão decorrer no Jardim Oudinot, local com características únicas, como sejam Espetáculos Musicais, Animação de Rua, Mostra de Artesanato e Antiguidades, Feira do Livro, Insufláveis para Crianças, Desfile das Tripulações, Atividades Desportivas (Canoagem, Nautimodelismo, Mergulho, Kitesurf, etc.), Gastronomia, entre tantas outras.

O Ílhavo Sea Festival 2012 constituirá mais uma excelente oportunidade de divulgação do Município de Ílhavo, da sua história marinheira, em especial da sua efetiva vocação marítima, seja ao nível da pesca, seja ao nível da náutica de recreio, seja também ao nível de outras atividades económicas, em especial do Turismo, que tenham o Oceano e a Ria de Aveiro como pano de fundo.

LINKS IMPORTANTES:

O Roda do Leme irá tentar acompanhar a chegada dos veleiros, bem como a sua estadia no Porto de Aveiro.

Preparem-se! Já falta pouco.

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terça-feira, 17 de julho de 2012

Entre a bordo do Santa Maria Manuela com a Renascença

Deixo aqui um excelente diário de bordo escrito pelo jornalista João Santos Duarte, a quem eu dou os meus mais sinceros parabéns.

Fica aqui a introdução:

Entre a bordo do veleiro português Santa Maria Manuela com a Renascença. O jornalista João Santos Duarte está a fazer o percurso de Saint Malo, em França, até Lisboa e conta-lhe, dia-a-dia, como está a ser esta viagem, como é fazer parte da tripulação e ir ao leme deste veleiro, quais as tarefas a desempenhar e como é fazer parte desta grande aventura.

Sábado, 7 de Julho de 2012

Não foi difícil de encontrar. Chegamos a Saint-Malo de comboio ao final da tarde, e depois de percorrermos com a mochila às costas a estrada que conduz à parte antiga dentro das muralhas e ao porto, os quatro mastros do Santa Maria Manuela depressa se cruzam com a nossa linha do olhar. O veleiro português, construído há 75 anos e reconstruído nos anos recentes, facilmente se destaca dos outros que participam igualmente na Tall Ships Races, um evento que todos os anos reúne os maiores veleiros do mundo.
Depois de nos apresentarmos a bordo tomamos um primeiro contacto com a embarcação e somos conduzidos ao nosso camarote, que vamos partilhar com outro viajante.
Nos próximos dias vamos acompanhar a viagem do Santa Maria Manuela entre Saint-Malo, no norte de França, e Lisboa, e perceber como é a vida a bordo de um veleiro.


Para continuar a ler clique no seguinte link:

Siga os veleiros aqui:

Espero que tenham gostado e até à próxima!



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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Entrada do Cidade de Amarante 01-07-2012

Nem sempre temos o privilégio de assistir a uma entrada de um navio. É certo que nem todos os navios nos cativam para a sua entrada, mas um navio bacalhoeiro, como ainda lhes gosto de chamar, tem a sua mística. Raro é, então, poder assistir a uma entrada a um Domingo.

O Forte da Barra, local para onde costumo ir quase sempre, estava praticamente vazio. À medida que a hora se ia aproximando, próximo do meio-dia, os carros iam-se juntando. Não seriam só, certamente, os familiares dos tripulantes, mas também pessoas que gostam de ver estes gigantes a regressar da faina. O dia estaria perfeito, não fosse a ventania que se fazia sentir.

O "Cidade de Amarante", tão velho quanto eu, ia dando início à entrada. Passando pelo paredão, na Barra, apitava freneticamente para quem lá se encontrava. Do meu lado direito, próximo do caís de atracação do ferry, estava o "Salinas de Aveiro", que aguardava calmamente o aproximar do navio.

E aí estava ele!


Não deixando de lado ninguém, o Amarante apitava também para as várias pessoas que rapidamente se concentraram no Forte. Este bonito navio demonstra bem o que de melhor já fizemos, no que diz respeito à construção naval. O seu berço, a poucos metros dali, possui hoje apenas o resto do casco de uma corveta da Marinha, nada mais.

Para quem anda, não há dia mais alegre que o da entrada. Em casa é dia de festa, dia de pôr a "escrita em dia", dia de visitar quem cá ficou.

Comandando o caminho, segui o Salinas, já com a amarra pronta para a manobra.

Para atracar o navio já pronto para a próxima saída, o "Salinas de Aveiro" tratou de lhe puxar a proa, literalmente.

No caís, muitos eram os familiares que assistiam à manobra, aguardando com emoção a atracação final do navio, e aquele momento em que a tripulação começa a sair. Considero esse o auge de uma entrada. O reencontro. É um sentimento que apenas quem o vive na pele lhe sabe dar o devido valor.

Navio atracado, estava na hora de fazer sair a passarela, e dar por terminada mais uma viagem.

Que muitas mais se sucedam, e que Portugal se volte de novo para Aquele que lhe deu o ser, o grandioso e vasto oceano que nos bate na cara.

Espero que tenham gostado.

Até à próxima!


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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Onde anda o Ria Mar?

Para quem gosta de acompanhar os navios nos mais variados sites de "AIS Tracking", isto é, seguir os navios através do seu sinal AIS, costuma ter umas surpresas engraçadas, se não vejamos:


Ao clicar na imagem acima, irá ver a localização do "Ria Mar", já aqui fotografado no blog. Esta localização é de hoje, por volta das 00h02, como pode ser visto na imagem. Reparem onde este se encontra! Não é de admirar que depois de tantos meses de viagem, se possa assistir a uma chegada com o mesmo neste estado:

Fotografia tirada no dia 28-11-2011

O site que nos traz esta informação é o FleetMon. Este excelente site já se encontra na sua generalidade traduzido para português, por mim, para que possam desfrutar da sua grande qualidade, seguindo as nossas mui lindas naus de aço por esse mundo fora.

Podem aceder ao Fleetmon através do seguinte link:

Espero que gostem!

Até à próxima.


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terça-feira, 26 de junho de 2012

O MAR POR SEPULTURA - Francisco Vieira

Hoje trago-vos um belíssimo texto da autoria de Francisco Vieira:

Durante séculos, as pequenas povoações piscatórias do litoral português abrigaram-se em rudimentares construções de madeira, erguidas por estacaria.
O mar dava-lhes o sustento, e a necessidade de não se distanciarem dele, obrigava-as a essas construções, adaptadas às condições de instabilidade do terreno. Espreitada pelo rio e admirada pelo mar, a Cova lembrava uma Aldeia Lacustre. Terra de rara beleza mas de pouco pão, onde predominavam os extensos campos dunares que se estendiam desde a embocadura do rio, seguindo para sul pelo litoral. As suas gentes, acostumadas a pouca fartura, de corpos esguios e rostos tisnados, talhados pelas maresias e salgadiços, tinham por berço as dunas, imponentes, majestosamente estendidas a Sul do Mondego, defronte da grande Praia da Figueira.

Num desses palheiros à beira-mar, no ano de 1911, nascia Álvaro Fernandes Reboca. A pesca sempre foi a atividade da família e porque a Arte Xávega não lhes matava a fome o ano inteiro, valiam-se de outras artes, entre elas a Pesca do Bacalhau, pelos mares longínquos dos Grandes Bancos da Terra Nova.
Álvaro não soube fugir à sua sina. Pela mão do pai, António Fernandes Reboca, o petiz de apenas treze anos embarcou pela primeira vez, exercendo as funções de moço. A bordo dos Lugres “Júlia I”, “Pescador”, “Leopoldina”, “Júlia IV”, “Terra Nova” e do navio “Bissaya Barreto”, havia de passar metade da vida, passando por quase todos os postos que um marinheiro/pescador pode alcançar.

O pior tempo foi o da Pesca à Linha, mas se a vida era dura, a fome era pior.
Por isso, todos os dias que o mar permitia, os Dóris arriavam e dentro de cada um ia um homem afoito, disposto a arrancar-lhe das águas o sustento, para si e para os que em terra esperavam pelo pouco que ele ganharia.
“Levantai-vos rapaziada, filhos da Virgem Maria. Vai um homem para o leme e dois para a vigia” era o último verso dos Louvados, que os pescadores repetiam antes de começar mais um dia de trabalho. O ditado é velho: ‘”se queres aprender a orar, entra no mar”. E era à fé que eles se agarravam. Com a morte ali tão perto, era preciso agarrar-se à esperança de que voltariam.

A bordo do Dóri, cada homem tinha duas linhas, com um só anzol, e pescava de pé, com “Zagaias”, “Pingalins” e outras formas de “zagaiar”, normalmente com uma linha em cada mão, com os braços a puxarem e largarem as linhas, encostadas a dois pinos - pontas de cornos de vaca ou boi - colocados na borda do Dóri e seguros por uma pequena linha de Gagim.
Para isco usava-se o Clam , importado dos Estados Unidos, tripas de Cagarras, Lulas, Capelins ou outros peixes encontrados no estômago das primeiras capturas.
O isco preferido era a Lula, por isso tinham sempre a bordo uma linha para a pesca desse molusco, guarnecida de dia e de noite, chegando mesmo a acordar toda a gente aquando da passagem de um cardume. A sua importância era tal, que o primeiro a pescar uma Lula recebia o mesmo prémio que o primeiro a chegar a bordo com um Dóri cheio: uma garrafa de aguardente, fiel companheira nas horas de solidão, religiosamente guardada dentro do “Foquim”, junto com a merenda e o tabaco.

De início não havia outro tipo de pesca. Só mais tarde apareceu o “Troley”. Linhas de Gagim, com “Entralhos” para fixar os anzóis, que levavam no início um “Grampolim”, ferro de fixar a linha ao fundo e no final um balão, feito pelo próprio pescador, em lona e impregnado de Óleo de Linhaça fervido, no qual misturavam um pouco de tinta para dar a cor que cada um mais gostava.
E assim se passavam horas infindas e tantas vezes medonhas, até que o Dóri enchesse de peixe, enquanto que ao longe o Lugre “caturrava”, fazendo horas do pessoal regressar a bordo.

Após regressar ao navio com a captura, o peixe era atirado para dentro de umas caixas, as “Quetes” , com a ajuda de forquilhas, a que chamavam garfos. Dali passava para o "Troteiro", que o degolava e abria, com uma faca de dois gumes, o “Trote”. Passava depois para o “Quebra-cabeças”, que lhe retirava as vísceras e, com uma pancada na espinha, lhe separava a cabeça, empurrando-o para o Escalador. Em cada mesa havia um buraco para o qual se atirava o fígado - “Levas” na gíria dos pescadores - que depois de reunidos eram colocados em barricas, ficando a decompor-se, separando assim o óleo dos restantes líquidos, que sendo menos densos ficavam por baixo, abrindo uma torneira que existia no fundo das barricas. Cabia ao Escalador dar a forma ao bacalhau, usando uma faca de um só gume, atirando-o de seguida para dentro da “Selha” de lavagem. Esse trabalho decorria durante todo o dia, sob os rigores do clima, e do mar, que amiúde tudo inundava com uma vaga. Com o cair da noite e a recolha dos últimos Dóris, sob a luz das lanternas de petróleo, baldeava-se o convés, lançando ao mar os restos, a que os pescadores chamavam “Gueira”, que no entanto, ia deixando o cheiro entranhado no navio, que todos notavam, menos os pescadores.

Mas sob a coberta o trabalho continuava, depois de lavado, o bacalhau entrava para o porão para ser salgado, e talvez fosse esse o trabalho mais duro a bordo, com a escotilha quase sempre meia fechada, para proteger o bacalhau da chuva e dos golpes de mar, com pouca luz e o mau cheiro intenso, de gatas sobre o bacalhau que iam empilhando, os salgadores deitavam uma mão cheia de sal atrás da outra, sobre o peixe, que passava então a ser "Bacalhau Verde". A memória da dureza deste trabalho ficou marcada na expressão popular que algumas mães usavam quando queriam ameaçar os filhos: “se continuas assim, mando-te embarcar como salgador”.
O frio, o sal, as linhas, em suma toda a dureza do trabalho refletia-se sobretudo nas mãos. Inchavam, endureciam, enchiam-se de frieiras, que com o tempo rebentavam, transformando-se em chagas.
Nos Dóris o trabalho não permitia o uso de luvas, pelo que os pescadores usavam umas tiras de couro para proteger as palmas a que chamavam “Nepas”. Todas as tarefas eram feitas entre as 5 horas da manhã e a meia-noite, sem feriados ou fins-de-semana, e mesmo o tempo de vigia era tirado ao tempo de descanso.
Quando acabava o dia de trabalho, por volta da meia-noite, o Capitão estava no porão do navio a ver a salga, que era a parte que exigia mais assistência, para o peixe não se estragar. Quando chegava cá acima perguntava que horas eram, já que não era hábito usar relógio de pulso. Lá lhe diziam: “um quarto para a meia-noite!”. Ele fazia logo as contas e respondia: “Louvados às cinco horas da manhã!” E “Louvados” era o mesmo que levantados… o pessoal depois comia alguma coisa e deitava-se a dormir, completamente vestido. Não mudavam de roupa com muita frequência.
Os vigias, que rodavam de acordo com uma escala diária de serviço alertavam a tripulação no caso de se levantar uma tempestade de repente ou de vir um Iceberg em direção ao Lugre.

Mas o mar que lhes dava o pão, podia dar-lhes também a perdição. Não foram poucos os que por lá ficaram, engolidos pelas ondas, vivos ou mortos.
Quantos nele não encontraram sepultura? Ou porque desapareciam nas vagas, ou porque, mesmo morrendo a bordo, eram atirados borda fora. Era o Capitão que decidia se os levava a terra, ou se os sepultava no mar. E muitas vezes, era ali mesmo que os deixava…

Um dia, um dos companheiros de Álvaro Fernandes Reboca faleceu a bordo, com “uma doença nos pulmões”. O próprio contou a história, entrevistado por Marques Cabete, do programa “Culturando”, na Rádio Maiorca, em Setembro de 1994.
- O Capitão mandou embrulhar o corpo em vários lençóis, amarrados com pedaços de correntes. Até chumbo se atou à sua volta para fazer peso.
Junto á Amura de Estibordo, rezaram-se três Ave Marias e um Pai Nosso, encomendando-lhe a alma a Deus. A tripulação, angustiada, assistia assim ao desaparecimento de um companheiro, sem a família o poder ver. Corpo botado no Dóri, “Teques” presos nas “Alças” e vá de arriar.
- Comigo foi mais um camarada. Remámos para nos afastarmos do
Lugre. Às tantas, diz-me o outro: "é pá, ele já não vem mais cá acima. Vamos chapá-lo ao mar”. E assim se fez…. de seguida remámos para bordo e a faina continuou.
Outros funerais foram feitos a bordo, com o mesmo envolvimento de roupa, correntes e tudo que fizesse peso, mas deitados na “Amura” - borda do Lugre - e de seguida atirados ao mar.

E o pior de tudo é que em terra não se sabia de nada, enquanto não terminasse a viagem. Não haviam comunicações por rádio. As mensagens eram dadas por código, com bandeiras içadas no mastro da Vela Mezena.
Pelas dunas do areal da Cova até ao Cabedelo, corriam famílias inteiras, ao encontro do Lugre do seu homem, do filho, do pai ou avô, tio ou sobrinho e tantos amigos da terra. O alvoroço era geral, numa mistura de alegria, medo e angustia.
A ansiedade de mostrar o filho ao pai, feito na época do defeso e que entretanto tinha nascido.
Era também a esperança de ir à casa de penhores “tirar o fio de ouro do prego”, ou a gabardina, empenhados a meio do Inverno, para acudir às necessidades mais urgentes da família.
Acostumados a reconhecerem os códigos, de pronto se sabia se vinham de saúde, se traziam doentes, se havia gente presa por desobediência, ou desaparecidos.
Foi assim por muitos e dolorosos anos.
Nessa viagem, como em tantas outras, viu-se ao longe que a bandeira falava de morte, mesmo sem se saber ainda quem morrera. Por isso, o pranto era geral, entre os que em terra esperavam ansiosos: “houve morte a bordo. Ai que desgraça!

Manuel Alberto Afonso recorda a entrevista na Rádio Maiorca: “ o Ti Álvaro Reboca – que Deus o tenha - ficou rígido de rosto, voz embargada pela recordação, pela emoção. Um retrato vivo e infindável de amargura… sentimos um calafrio por ouvir, assim, daquele modo simples, uma das componentes de tragédia mais abruptas e violentas da Faina Maior. Infelizmente temos casos destes na minha terra. Famílias que cresceram com a desgraça, mas que nunca deixaram o mar”.
Francisco Vieira
Fontes: Manuel Alberto Afonso, “Álbum Figueirense”, “Ílhavo - Terra de Marinheiros”, “Caxinas – de Lugar a Freguesia”, “Aqui e Agora”, “Wikipédia”.


Preparem-se, pois certamente começaremos a ver mais vezes textos deste grandes escritor aqui no blog.

Espero que tenham gostado, e até à próxima!


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terça-feira, 19 de junho de 2012

Fragatas Classe Vasco Gama, 20 Anos ao serviço de Portugal

Pelas mãos da nossa Armada, chega-nos hoje um excelente vídeo sobre as fragatas da Classe "Vasco da Gama".

"Vasco da Gama, Álvares Cabral e Côrte-Real são nomes da história de Portugal, que fazem parte da grandeza que o País atingiu através do Mar. E desde há pouco mais de 20 anos são também nomes de navios da Marinha Portuguesa." Via Canal Youtube da Marinha.



Espero que gostem!


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